“Falsa couve”: o que é a planta tóxica confundida com verdura e que provocou intoxicações em Minas Gerais

Um caso recente em Minas Gerais acendeu um alerta importante sobre os riscos de confundir plantas silvestres com verduras comestíveis. A morte de Claviana Nunes da Silva, de 37 anos, e a internação de três familiares após consumirem folhas de uma planta conhecida popularmente como “falsa couve” chamaram a atenção de especialistas em saúde e botânica.

O episódio aconteceu em Patrocínio, no Alto Paranaíba, e levou à abertura de uma investigação sobre intoxicação acidental. A planta em questão é a Nicotiana glauca, também chamada de charuteira ou tabaco-arbóreo, uma espécie altamente tóxica que pode causar sintomas severos mesmo em pequenas quantidades.

Entenda o que aconteceu

De acordo com informações da Secretaria Municipal de Saúde e da Polícia Civil, a família preparou as folhas da planta durante o almoço em uma chácara recém-adquirida. O grupo acreditava se tratar de couve tradicional, usada frequentemente em receitas caseiras.

Pouco tempo após a refeição, os quatro adultos começaram a apresentar sintomas como mal-estar, fraqueza muscular, tontura e dificuldade para respirar. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e o Corpo de Bombeiros foram acionados para o resgate, realizando os primeiros atendimentos ainda no local.

Os pacientes foram levados em estado grave para unidades de saúde da região. Claviana permaneceu internada por cinco dias, mas teve complicações neurológicas graves, não resistindo na segunda-feira (13). Os demais familiares seguem em tratamento, dois deles ainda em Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

A Fundação Ezequiel Dias (Funed), em Belo Horizonte, realiza análises das amostras coletadas na residência, incluindo fragmentos da planta e restos alimentares. O objetivo é confirmar a presença da substância tóxica anabasina, responsável pelos efeitos nocivos no organismo.

Por que a charuteira é perigosa

A charuteira é uma planta nativa da América do Sul que cresce espontaneamente em terrenos baldios, margens de rodovias e áreas rurais. Por ter folhas alongadas e coloração semelhante à couve, pode enganar pessoas desavisadas.

No entanto, há diferenças importantes:

  • As folhas da charuteira são finas, opacas e de cor verde-acinzentada, com textura aveludada.

  • As flores são amarelas e em formato de tubo, nascendo em cachos nas extremidades dos galhos.

  • O odor da planta é amargo e forte, enquanto a couve tem aroma suave e fresco.

  • A charuteira cresce como um arbusto alto, que pode ultrapassar três metros de altura — diferente da couve, que é uma planta baixa de horta.

O perigo está na anabasina, um alcaloide presente em toda a planta, especialmente nas folhas e flores. Essa substância é semelhante à nicotina, mas muito mais potente, podendo provocar paralisia muscular, parada respiratória e alterações cardíacas. Mesmo o cozimento não elimina completamente o composto tóxico.

Como evitar acidentes com plantas parecidas

Casos como esse, embora raros, servem como alerta sobre a importância de verificar a procedência de alimentos e plantas antes do consumo. Especialistas recomendam:

  1. Evitar colher plantas desconhecidas — mesmo em áreas aparentemente seguras.

  2. Observar o formato das folhas e o caule — pequenas diferenças visuais podem indicar outra espécie.

  3. Consultar agricultores locais ou agrônomos em caso de dúvida.

  4. Comprar verduras em locais certificados, como feiras e supermercados.

  5. Manter hortas bem identificadas, especialmente em propriedades rurais.

Em situações de ingestão acidental, a orientação é procurar atendimento médico imediatamente. Não há antídoto caseiro eficaz para intoxicações por anabasina, e o tratamento hospitalar deve ser iniciado o mais rápido possível para reduzir complicações.

Um alerta sobre segurança alimentar

A tragédia em Patrocínio evidencia como o conhecimento sobre plantas e alimentos é fundamental para a segurança das famílias brasileiras, especialmente nas zonas rurais. A charuteira, apesar de comum na paisagem, não é própria para o consumo humano e deve ser eliminada de áreas próximas a hortas ou criações.

Autoridades reforçam que esse tipo de acidente não está ligado a práticas criminosas, mas sim à semelhança visual entre espécies comestíveis e tóxicas. O caso permanece sob investigação, e a principal linha de apuração segue sendo o envenenamento acidental.

Enquanto as análises laboratoriais são concluídas, especialistas em toxicologia e botânica recomendam que a população redobre a atenção e busque informação sobre plantas nativas e ornamentais, já que muitas podem conter substâncias potencialmente perigosas.

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