Caso de Pedro Henrique Morato Dantas causa comoção e levanta questionamentos sobre a atuação de policiais fora de serviço em ambientes civis
Mais uma tragédia envolvendo agentes de segurança pública choca o país e reacende um debate delicado, mas urgente: o limite da atuação de policiais militares fora do serviço e os riscos do uso precipitado de armas de fogo em ambientes civis. Desta vez, a vítima foi Pedro Henrique Morato Dantas, um feirante de 30 anos, trabalhador conhecido na comunidade da Penha, Zona Norte do Rio de Janeiro.
Pedro Henrique foi morto a tiros na madrugada deste domingo, 6 de abril, por um policial militar identificado como Fernando Ribeiro Baraúna, que estava de folga no momento do ocorrido. O PM, segundo relatos, estava acompanhado da esposa, e o casal havia acabado de sair de uma casa noturna próxima ao local da feira onde Pedro trabalhava.
De acordo com testemunhas, tudo aconteceu de forma rápida e confusa. Ao ver Pedro Henrique organizando sua barraca de pastéis, como fazia rotineiramente todos os domingos, a esposa do policial teria apontado o rapaz como suspeito de um assalto. Diante da acusação, o PM sacou a arma e efetuou os disparos, atingindo Pedro mortalmente.
A versão apresentada pelos colegas e moradores da região é completamente diferente da alegação inicial. Pedro era conhecido por ser trabalhador, presente nas feiras da Penha, e não possuía histórico criminal. Vídeos gravados logo após o ocorrido mostram o desespero de pessoas próximas à vítima, que clamavam por justiça e denunciavam a abordagem violenta e precipitada do agente.
A tragédia ganhou grande repercussão nas redes sociais, com milhares de internautas se manifestando em solidariedade à família do feirante e exigindo apuração rigorosa dos fatos. O caso está sendo investigado pela 22ª Delegacia de Polícia da Penha, e a Corregedoria da Polícia Militar já foi acionada para apurar a conduta do policial envolvido.
O episódio se soma a outros semelhantes, agravando a sensação de insegurança em relação ao comportamento de agentes armados fora do serviço. Em fevereiro deste ano, também na Penha, o estudante e jornalista Igor Melo foi baleado por engano ao ser confundido com um criminoso por um policial reformado. Assim como no caso de Pedro, a esposa do agente também teria feito a identificação equivocada. Igor sobreviveu, mas sofreu sérias consequências: perdeu um rim e ainda enfrenta sequelas físicas e psicológicas.
A repetição desses episódios expõe fragilidades na formação, no preparo emocional e na responsabilização de agentes da segurança pública. Especialistas em segurança têm alertado para os perigos do armamento fora do serviço e a urgência de se discutir critérios mais rígidos para o porte de armas em situações civis. O uso da força letal com base apenas em suposições, sem confirmação ou abordagem adequada, coloca vidas inocentes em risco e mina a confiança da população nas instituições responsáveis por protegê-las.
Além do debate institucional, há o drama humano. Pedro Henrique deixa familiares, amigos e uma comunidade inteira em luto. Ele era um jovem simples, batalhador, que dedicava seus dias ao trabalho honesto para sustentar a família. Sua morte não é apenas uma estatística ou mais um caso nas manchetes: é a interrupção de uma vida cheia de planos e possibilidades.
O clamor por justiça não se limita à punição do autor dos disparos, mas também à implementação de mudanças reais e estruturais. É necessário investir em formação mais humanizada e ética dos policiais, além de fortalecer os protocolos para o uso da força. Também é essencial discutir o papel de acompanhantes em ações precipitadas — como nos dois casos recentes — e como esses elementos externos estão influenciando decisões fatais.
Enquanto a investigação prossegue, a dor de mais uma família permanece como testemunho de que algo precisa mudar. A morte de Pedro Henrique Morato Dantas não pode ser em vão. Que sua história sirva de alerta, de reflexão e de impulso para uma sociedade mais justa, segura e consciente da importância de preservar vidas acima de tudo.